quarta-feira, setembro 22, 2010

Cidade Grande X Cidade Pequena


O que você prefere? O agito da cidade grande ou o sossego de uma cidade pequena? Sempre tem prós e contras. Eu sei o que é viver numa cidade grande e numa cidade menor. Para quem nunca morou na cidade grande, ainda mais quando está entediado, cansado do marasmo e da falta de opções para se divertir numa cidade do tamanho de um ovo existe aquele eterno sonho de "um dia vou morar na capital". Se você quiser fugir da falta de privacidade, pois cidade de interior todos se conhecem. E você pode se tornar tema das fofocas. Na cidade grande não. É tanta gente que muitas vezes nos sentimos só. Milhares ao seu redor e bate aquela solidão. Se desmaiar no meio da Avenida Paulista, quase ninguém repara. Talvez reparem, mas parar para ajudar nem pensar. O pessoal do Pânico na TV fez esse teste alguns anos atrás na própria Avenida Paulista com o Mendigo e com a Mulher Samambaia. Óbvio que a mais "acudida" (veja lá o que vai pensar) foi a Samambaia.

Assim que pisei em terras brasileiras fui logo morar numa cidade a uns 60km de distância da cidade de São Paulo. Na minha adolescência houve um boom no êxodo para Sampa de filhos de chineses para estudarem nos melhores colégios. Apenas eu e mais alguns sobreviventes resistiram e continuaram por aqui. No fim das contas, consegui realizar meu sonho de morar na maior cidade do país por ter passado no vestibular da Fuvest. E muitos que foram por modismo, acabaram voltando para fazer faculdade particular. Viu como esperar um pouco mais vale a pena? Quem achou que estudando em um excelente colégio em Sampa seria o passo para uma universidade de grande porte e teve que se contentar com uma mediana se deu mal. Pois sou a prova de que nome não faz a fama. Além de ótimos colégios e universidades, uma cidade grande pode oferecer boas oportunidades de trabalho com boa remuneração. Mas a remuneração só é boa por causa do alto custo de vida que uma cidade como São Paulo proporciona. Lá tudo é caro. Mas não podemos negar que lá também se curte as melhores baladas, os melhores restaurantes, os melhores cinemas, shoppings, parques, atrações culturais e a lista é interminável.

A violência também acompanha o ritmo frenético da cidade grande. Quanto maior, pior é o nível da violência. O grande abismo existente entre quem é rico e quem é pobre é nítido. Bairros nobres versus periferia. Muita gente quer fugir de São Paulo com medo dessa violência desenfreada. Em vez dos bandidos fugirem, nós é que somos obrigados a sair correndo. Essa é vantagem da cidade pequena. O sossego e a tranquilidade. Se acontecer algo, todo mundo já fica sabendo. Depois de 10 anos morando em Sampa, resolvi voltar para a minha "terra natal". Entre aspas porque não nasci nesta cidade, eu sou importado de Taiwan. Eu cansei da correria de lá, do trânsito infernal, da multidão. Preferi ficar mais perto dos meus familiares. Trabalho a gente arruma em qualquer lugar. A remuneração não é a mesma coisa, mas como havia dito, ela é condizente com o nível do custo de vida. Aqui não ganho o que um da mesma área que eu ganha trampando na capital, mas com certeza o cara torra mais grana do que eu.

É fato inegável que, ao nos tornarmos cosmopolitas morando em grandes metrópoles, corremos o risco de sermos preconceituosos em relação a cidades menores. Por pensarmos que nas metrópoles estão as melhores oportunidades de trabalho e que fatalmente atraem a maioria dos formandos das faculdades, cria-se uma falsa impressão de que não existem empresas boas fora dos grandes centros urbanos e profissionais até melhores que os de grandes cidades. E é aí que está o engano. Eu moro numa cidade estrategicamente localizada e nada me impede de competir de igual para igual com profissionais que fazem o mesmo trabalho que eu e os outros morando onde o dinheiro acontece. Hoje em dia, a internet facilitou em muito o trabalho no computador. Em determinadas profissões, quase não se vê o cliente. É tudo online e por telefone. Vejam o exemplo de Maurício Ricardo, que criou o site Charges.com.br com projeção nacional e mora fora do eixo Rio-São Paulo. Ele é de Uberlândia, a uma distância de 556km de Belo Horizonte, com mais de 600 mil habitantes.

Onde estou hoje está ótimo para mim. Se eu quiser ir a Sampa, chego em 1 hora de carro, ônibus ou trem. Se bater o tédio, desço para o litoral em 1 hora também. Equilíbrio em todos os sentidos. Pois a cidade onde moro é de porte médio, perto da metrópole e com ares de interior.

quarta-feira, junho 09, 2010

Fios de Kirschner




Hoje retirei os três fios de Kirschner que foram colocados no osso do meu antebraço chamado rádio, há mais de um mês atrás. Que venha agora a fisioterapia, vou voltar a andar de moto, comer carne com educação no restaurante, digitar com as duas mãos, jogar futebol e lembrando que foi numa partida de futebol entre amigos que fraturei o punho esquerdo. A retirada foi sem anestesia, mesmo porque não dói, o que arde mesmo é a ferida aberta ali na hora. Depois passa. Só dá pra sentir o metal sendo puxado. O ortopedista apenas disse "respira fundo" e pronto! Se você não sabe como é a colocação e a retirada, achei alguns vídeos bem ilustrativos. Devo esclarecer que não estou em nenhum deles. Agora preciso me readaptar. Lá vamos nós de novo!









sexta-feira, maio 28, 2010

3 dias no hospital público - parte final

Três dias confinado num hospital público sem ao menos uma televisão dentro do quarto exige um certo jogo de cintura para fazer o tempo passar. Ler livros, dormir, andar pelos corredores, comer, beber e dormir novamente. Mas um das coisas que apreciei neste tempo todo foram as pessoas que conheci lá dentro. Todos os que estão internados têm algo em comum: um histórico de doenças ou de uma deficiência física. No meu caso até que fui atendido rapidamente. Soube de pacientes que estavam há uma ou duas semanas aguardando por uma cirurgia. Aí não somente jogo de cintura para fazer o tempo passar mas também uma paciência de Jó.
A primeira pessoa que iniciei conversa foi um senhor que aguardava uma cirurgia no cérebro havia uma semana. Ele era jogador de futebol e seguiu carreira até os 30 anos. Neste tempo todo, nenhuma lesão séria, porém havia um coágulo no cérebro não diagnosticado e tratado a tempo no início, fruto de batida contra a cabeça de um outro jogador e por negligência do médico foi deixado de lado. Ele resolveu se tratar no SUS porque o hospital particular cobrava R$ 8.000,00 de cirurgia mais R$ 3.000,00 de diária. Só os exames haviam custado R$ 1.500,00! Como ele mesmo disse: "Se é para eu estar aqui, que seja a vontade de Deus", já que é um homem religioso.

Se o tempo demora para passar dentro do hospital, há quem não aguente ficar dias internado. Uma semana é o suficiente para deixar qualquer um subindo pelas paredes. Havia um jovem na mesma ala que eu e fez várias tentativas de fuga até que conseguiu passar batido pelos seguranças. Um outro paciente que havia sido atropelado numa estrada também tentou, mas não conseguia. O atropelamento devia ter sido tão forte pois ele não conseguia raciocinar direito. E tinha cada história para registrar lá dentro. Um rapaz que sofreu um acidente de carro, com fortes dores no peito pelo impacto contra o volante do carro da empresa, um homem que foi salvo de um afogamento e estava lá sob observação. Um pedreiro que reformava uma casa e uma parede caiu sobre ele. Na noite que dormi no corredor, havia um jovem que sofreu um acidente de moto havia um certo tempo. Ele simplesmente não tinha nenhuma sensibilidade no braço direito. Parecia um braço morto. Ficou uma semana inteira internado no hospital público da cidade onde ele mora sem os cuidados de um neurocirurgião.

Depois da minha cirurgia fui parar num quarto onde conheci um dos gestores do União F.C., um time local que disputa a 2ª divisão do campeonato paulista. Ele passou por uma cirurgia para a retirada do seu baço. Quando chegou o dia programado para a minha alta não via a hora de sair daquele ambiente de hospital, vendo dor e sofrimento, doenças de todo tipo, pessoas com dificuldade para esboçar um sorriso. Somente caretas de dor. Haja paciência para médicos e enfermeiros, pois muitas vezes não somos em nada pacientes. Extravasamos a nossa ingratidão pela comida insossa, a teimosia e a rabugice em não obedecer ao tratamento. Aquele azedume típico de velho chato e insuportável. Espero nunca chegar a este ponto. Até o dia de hoje, ainda faltam mais duas semanas, pelo menos, na qual tenho que manter os fios de kirschner espetados no meu punho. Ultimamente, estou convivendo com um corte de quase 1cm de comprimento num dos metais. E a retirada deles é no alicate e sem anestesia! Uma coisa boa neste tempo que fiquei no hospital era o desfile das estudantes de medicina da Unifesp nos corredores. Difícil era eleger a mais linda, tarefa igualmente difícil era eleger a menos bonita!


terça-feira, maio 11, 2010

3 dias no hospital público - parte 2

"A saúde é direito de todos e dever do Estado (...)" - Art. 196 da Constituição Brasileira

Quando se fala em hospital público já vêm à nossa mente imagens de caos, abandono e falta de profissionais da área de saúde. E é a mais pura verdade. Não deveria ser a regra e sim uma exceção. Apesar deste mal, ainda existem alguns oásis neste deserto. O hospital onde fui operado exibe um certo nível de excelência. Mesmo assim enfrenta dificuldades para atender a todos de forma satisfatória pois atende muitos pacientes de outras cidades pelo fato delas não terem médicos especializados. Antes de fazer a cirurgia, fiquei na ala de observação onde vão para lá pacientes com quadros clínicos menos graves. Uma ala onde um leito ficava bem pertinho do outro para caber num quarto onde o ideal seriam 6 pacientes, separados por cortinas. Onde cabia um, na prática, ficavam dois ou três pacientes. E quando o quarto ficava lotado, a solução era colocar os pacientes no corredor. Nos dois dias que fiquei nesta ala, fui "despejado" duas vezes no mesmo dia! Cheguei a dormir uma noite no corredor. Não me importo em dormir no corredor para ceder lugar a um idoso. O que eu achava chato era o vai-e-vem de pessoas, mesmo de madrugada.

Coisas deste tipo me faz pensar no que foi feito com o dinheiro da CPMF que seria destinado à saúde. E enquanto vejo uma parcela da sociedade apaudindo a inversão de valores, nós vamos sempre perder de vista o que realmente importa nesta vida. Cenas de pessoas aplaudindo o anúncio da Copa 2014 e da Olimpíada 2016, ambos no Brasil, sendo levadas pela demagogia de políticos, me preocupam. Construir arenas esportivas que vão custar bilhões de reais com dinheiro público. Talvez este dinheiro pudesse ser usado para construir novos hospitais e contratar mais profissionais da área de saúde. O Brasil vive dias de império romano, onde o povo era agraciado pela política do "pão e circo". Um pouco de comida e um pouco de diversão para fazer as pessoas esquecerem seus reais problemas.

É dever do Estado oferecer serviços de saúde com excelência, como diz a própria Constituição. A minha sorte é que o Papai lá de cima ajudou. Fui atendido em um bom hospital, ao contrário da mãe da minha cunhada que foi atendida na Santa Casa de Mogi das Cruzes, também com fratura no antebraço esquerdo por causa de uma queda, mas o caso dela era mais grave. Eu dormi a cirurgia inteira, ela ficou o tempo todo acordada por falta do sonífero e ouvindo a conversa do cirurgião: "passe a furadeira, passe o martelo". A sala de cirurgia mais parecia uma oficina de marcenaria. A comida que recebia do hospital não era ruim, mas a da Santa Casa era um marmitex! Economizei R$ 54,00 por conseguir antibiótico de graça no posto de saúde. Muitas vezes reclamamos do sistema público de saúde e com razão. Porém tem muita coisa boa sendo feita. Se melhorar cada vez mais, o sistema público pode rivalizar com os hospitais particulares que com seus planos de saúde caros nos escravizam e nos deixam sem muita opção.

Continua no próximo post...

quinta-feira, maio 06, 2010

3 dias no hospital público - parte 1

A aventura pela qual passei nos úlimos dias não foi em hotel cinco estrelas durante uma viagem paradisíaca. Tudo começou por causa uma partida de futebol society entre amigos no dia 13 de abril. Tentei defender um chute forte. A defesa eu fiz mas depois só vi estrelas porque machuquei a mão esquerda. Como sou bicho teimoso e procrastinador muitas vezes, não fui logo ao médico. Deixei passar mais de duas semanas. Só depois do inchaço do trauma diminuir é que eu reparei que meu punho esquerdo estava "desalinhado". Corri para o ortopedista no último domingo, meio apreensivo é verdade e também arrependido por não ter dado ouvidos a conselhos de pessoas próximas e levando a coisa toda em banho-maria. Quando contei ao médico da demora ele ficou surpreso e fez uma cara de pesar, ainda mais depois da radiografia. Fratura no rádio e só com cirurgia para colocar de volta no lugar certo.

A cirurgia foi feita no Hospital Luzia de Pinho Melo, uma espécie de hospital-escola onde podemos encontrar em sua maioria estudantes da Unifesp, uma das melhores faculdades de medicina do país, sem querer fazer média. É um hospital público mas é referência em cirurgias ortopédicas na Região do Alto Tietê, formada pelas cidades de Mogi das Cruzes, Suzano, Poá, Ferraz de Vasconcelos, Biritiba-Mirim, Salesópolis, Arujá, Itaquaquecetuba, Guararema, Igaratá e Santa Isabel. Abaixo o raio-x da encrenca:


O procedimento adotado foi a técnica de redução com aplicação dos "Fios de Kirschner" para fixação (nenhum parentesco com o ex-presidente argentino Nestor Kirschner). Só para esclarecer: as fotos abaixos foram feitas quando o ortopedista tirou a tala para mostrar como a cirurgia foi feita.

Continua no próximo post... (só para escrever este texto demorei bastante, já que só disponho da mão direita no velho e bom estilo "cata-milho").

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