terça-feira, maio 11, 2010

3 dias no hospital público - parte 2

"A saúde é direito de todos e dever do Estado (...)" - Art. 196 da Constituição Brasileira

Quando se fala em hospital público já vêm à nossa mente imagens de caos, abandono e falta de profissionais da área de saúde. E é a mais pura verdade. Não deveria ser a regra e sim uma exceção. Apesar deste mal, ainda existem alguns oásis neste deserto. O hospital onde fui operado exibe um certo nível de excelência. Mesmo assim enfrenta dificuldades para atender a todos de forma satisfatória pois atende muitos pacientes de outras cidades pelo fato delas não terem médicos especializados. Antes de fazer a cirurgia, fiquei na ala de observação onde vão para lá pacientes com quadros clínicos menos graves. Uma ala onde um leito ficava bem pertinho do outro para caber num quarto onde o ideal seriam 6 pacientes, separados por cortinas. Onde cabia um, na prática, ficavam dois ou três pacientes. E quando o quarto ficava lotado, a solução era colocar os pacientes no corredor. Nos dois dias que fiquei nesta ala, fui "despejado" duas vezes no mesmo dia! Cheguei a dormir uma noite no corredor. Não me importo em dormir no corredor para ceder lugar a um idoso. O que eu achava chato era o vai-e-vem de pessoas, mesmo de madrugada.

Coisas deste tipo me faz pensar no que foi feito com o dinheiro da CPMF que seria destinado à saúde. E enquanto vejo uma parcela da sociedade apaudindo a inversão de valores, nós vamos sempre perder de vista o que realmente importa nesta vida. Cenas de pessoas aplaudindo o anúncio da Copa 2014 e da Olimpíada 2016, ambos no Brasil, sendo levadas pela demagogia de políticos, me preocupam. Construir arenas esportivas que vão custar bilhões de reais com dinheiro público. Talvez este dinheiro pudesse ser usado para construir novos hospitais e contratar mais profissionais da área de saúde. O Brasil vive dias de império romano, onde o povo era agraciado pela política do "pão e circo". Um pouco de comida e um pouco de diversão para fazer as pessoas esquecerem seus reais problemas.

É dever do Estado oferecer serviços de saúde com excelência, como diz a própria Constituição. A minha sorte é que o Papai lá de cima ajudou. Fui atendido em um bom hospital, ao contrário da mãe da minha cunhada que foi atendida na Santa Casa de Mogi das Cruzes, também com fratura no antebraço esquerdo por causa de uma queda, mas o caso dela era mais grave. Eu dormi a cirurgia inteira, ela ficou o tempo todo acordada por falta do sonífero e ouvindo a conversa do cirurgião: "passe a furadeira, passe o martelo". A sala de cirurgia mais parecia uma oficina de marcenaria. A comida que recebia do hospital não era ruim, mas a da Santa Casa era um marmitex! Economizei R$ 54,00 por conseguir antibiótico de graça no posto de saúde. Muitas vezes reclamamos do sistema público de saúde e com razão. Porém tem muita coisa boa sendo feita. Se melhorar cada vez mais, o sistema público pode rivalizar com os hospitais particulares que com seus planos de saúde caros nos escravizam e nos deixam sem muita opção.

Continua no próximo post...

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