sábado, julho 01, 2006

Estação Carandiru – Drauzio Varella

Em época de atentados do PCC e rebeliões em presídios, a sugestão é ler Estação Carandiru de Drauzio Varella. É isso mesmo, aquele médico famoso que aparece no Fantástico da Rede Globo. Na verdade, ele fez fama primeiro entre os presos da Casa de Detenção, que foi desativado e implodido, dando lugar a um parque. Como se tornou muito respeitado no meio da população carcerária, Drauzio Varella relata episódios na vida de alguns presos, que confidenciaram algumas de suas histórias. O ponto central de todo relato é como funcionava o maior presídio do país com mais de 7000 detentos. O interessante também, é saber que existem leis próprias entre eles no que se refere ao crime, à bandidagem, à malandragem. As nossas leis não têm nada a ver com a dos bandidos.
Pessoalmente, visitei o Carandiru com alguns amigos, antes de sua implosão, quando foi aberta ao público. Passei pela entrada principal, pela Divinéia, que é uma espécie de pátio com algumas árvores, depois pela Radial, um amplo corredor aberto que dá acesso aos Pavilhões Cinco e Seis. Somente estes dois estavam abertos. Tive curiosidade em visitar o Nove, com a intenção de imaginar como foi o massacre. Óbvio que não tínhamos acesso. Dos pavilhões que visitei, especialmente o Cinco, de acordo com o relato do livro, era o pior em estado de conservação como pude comprovar. Andando pelos corredores e entrando nas celas, pude sentir uma atmosfera tétrica, típica de filme de terror. Pior do que ficar preso com um monte de gente, seria ficar sozinho no meio daquele ambiente. Tinha um cheiro forte, muitas coisas largadas. Acho que muitos detentos, ao serem transferidos, nem tiveram tempo de fazer as malas. E por falar em monte de gente, o Cinco era o mais lotado. Era composto de evangélicos, estupradores, presos marginalizados em outros pavilhões, presos com dívidas com outros presos, presos jurados de morte. Por isso que era o maior fabricante de facas do presídio. Vi muitas dessas “facas” expostas no pátio do pavilhão.
Na hora da saída, passando pela Radial novamente, olhei para o lado vendo o muro alto que cercava o presídio e onde os guardas armados ficavam, imaginando como seria viver anos ali. Tive a sensação de que enlouqueceria neste ambiente hostil. A Casa de Detenção não existe mais. Todos os seus fantasmas foram soterrados no meio do entulho. Ela só existe na lembrança de quem viveu e passou por lá. Nem que tenha sido por apenas duas horas.

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